Querido Marcos,
Você nos perguntou por que escolhemos vistar a ilha de Chipre. O fato de estarmos a trabalho na Europa em fevereiro já nos oferecia duas alternativas de viagem - permanecer na Europa, claro, e procurar um lugar mais "quentinho", uma vez que não íamos esquiar. Adoramos o Mediterrâneo, em especial Grécia e Turquia. Some isso tudo e olhe no mapa: Chipre é a resposta.
A viagem quase se torna um desastre, não fosse o lugar realmente lindo e a equipe da recepção do Anassa Hotel ser profissional, simpática e solícita. Graças à British Airways, chegamos sem as três malas no aeroporto de Larnaka. No carro alugado, fizemos as duas horas de viagem até Bath of Aphrodite onde fica o hotel, embaixo de chuva, com frio e com fome, ainda por cima dirigindo na mão inglesa. Só fomos receber duas das malas no final do dia seguinte, a terceira delas, que continha todo o material de trabalho do Claudio, uma tradução de trezentas páginas que eu havia acabado de fazer e roupas de frio novas, sumiu para sempre...
Enquanto a turma do Anassa tentava reaver nossa bagagem fomos passear. Descobrimos dois cyber cafés: o primeiro num mezanino de um bar, onde não se podia ficar de pé por causa da altura do teto, tinha três computadores jurássicos cujas conexões não estavam funcionado, além de o atendente não saber falar inglês direito. O segundo, aparentemente tocado por uma família local, com vários computadores novíssimos e toda a parafernália tecnológica acoplada. Foi de lá que mandamos s.o.s. para a família, o escritório, a companhia de seguro e a British por todos os dias que permanecemos em Chipre.
Fora da temporada de veraneio, a cidade de Polys, a mais próxima de onde ficamos, estava vazia, com pouco comércio aberto. Entramos em um dos raros restaurantes com gente dentro, mas quando vimos o cardápio de hambúrguer e cachorro-quente, saímos correndo. Na segunda tentativa, fomos servidos por uma polonesa do menu degustação cipriota, o mezze, que tem pequenos pratos da comida típica local que inclui tzatizikis, taramosalata, queijo feta, mussaka, humus tahine e outras tantas delícias que já conhecemos de forte influência turca e grega.
Yiangos & Peter foi o restaurante de peixes recomendado pelo hotel, ambiente beirando o confuso, mas comida farta e saborosa, em Polys, onde comemos por dois dias, sentados em frente ao porto lotado de traineiras. Em visita a outra cidade, Pafos, maior, mais adaptada a receber turistas, também fomos muito bem servidos na frente do cais no Poseidonas. Coisas que nos chamaram atenção: o grande número de estrangeiros trabalhando como garçons, as azeitonas de sabor amargo e o vinho tinto denso, rico, saborosíssimo, que só deve dar mesmo para beber durante o inverno de tão forte que é.
A paisagem típica do Mediterrâneo, com a vegetação de um verde muito escuro, galhos retorcidos das árvores, as plantações de uva, as praias de pedras redondas, as rochas porosas e quase brancas nos reservava uma surpresa agradável: os cheiros. É possível sentir no ar o aroma da madeira, das laranjas, dos limões, das tangerinas, misturado com algo como sálvia, orégano, cominho... Simplesmente maravilhoso.
Visitamos o lugar onde Aphrodite tomava banho de acordo com a mitologia. É um poço de água e com muita imaginação podemos perceber Adônis escondido entre as árvores, espiando sua amada. Apesar da chuva constante, conseguimos visitar o monastério de São Neofytos e sua charmosa cripta, toda desenhada. Subimos as montanhas mais altas do lado norte da ilha e pegamos neve em Stavros Tis Psokas, mas não conseguimos ver o muflon , tipo de cabra local com um chifre enorme, que agora está em extinção.
Pelas ruas estreitas, muitas vezes sem calçada, subimos e descemos ladeiras, observando a arquitetura local, totalmente sem imaginação, e ficamos espantados com a fome e a voracidade das vendedoras imobiliárias, que vivem dos europeus do continente. Torcemos para que haja um planejamento urbanos forte, de outra forma, pelo menos o lado oeste de Chipre vai ser engolido por condomínios horrorosos.
Colecionamos lindas pedras da praia e aproveitamos bastante as instalações do Anassa, principalmente por causa da chuva. Com capacidade para 360 hóspedes, o hotel era quase exclusivamente nosso. A piscina aquecida, a sala de ginástica e os tratamentos de beleza nos ocuparam bastante. À noite, sempre um profissional ao piano e um jantar excelente no restaurante do hotel nos embalava para um belo sono.
A moeda local é a libra cipriota, para nós brasileiros, mais cara do que a libra esterlina. Localizada numa rota entre os continentes europeu, asiático e africano, Chipre é um mapa a céu aberto da história da civilização ocidental com suas colunas gregas, os banhos turcos, os mosaicos romanos e as igrejas bizantinas, entre outras maravilhas. Não tivemos tempo de ver tudo e saímos de lá com a promessa de voltar, de preferência numa época mais convidativa ao turismo
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