Tuesday, 20 August 2019

Poemas Esquecidos VII


Tempo



Tenho pela frente o profundo
e o raso superficial.
No profundo me afundo
intenso, sem distúrbios emocionais,
até que os tambores de guerra
desfaçam o seu ressoar,
restabelecendo em prelúdio
cânticos de amor.
Tomo das vozes, atos e fatos
para beber da mesma água
impura que bebeste  no copo 
sujo e quebrado que 
encontraste no lixo da rua
deserta de homens.
Tomo do sangue, da angústia e
da noite última em que se
bebeu o mundo e se abraçou
a miséria.
Nas fendas abertas na terra 
nua e molhada de lágrimas,
penetram meus pés magros e inchados
de caminharem sem parar
por sobre as pedras que vão
trilhando os destinos
intermitentes e indefinidos 
do meu tempo.

STOS
Fevereiro 1975

No comments:

Post a Comment