Texto publicado na revista Cavalo Árabe em julho 2019
Era uma vez um homem desequilibrado, megalomaníaco e possuidor de um
poder bélico impressionante. Ele idealizou uma raça humana pura sobre a qual
reinaria supremo e não hesitou em matar e torturar para atingir seu intuito. Roubou
bens particulares, pilhou países, aplicou sua própria lei com toda a crueldade
que possuía dentro de si.
E se ele sonhou com a supremacia de seu povo, também imaginou que suas
tropas alemãs estariam munidas dos melhores cavalos do universo, àquela época
ainda considerados como uma importante arma de guerra. Foi quando um de seus
comandantes se incumbiu de amealhar para o líder os melhores espécimes
existentes.
Dois grupos de cavalos se destacaram nessa história de terror: os belos
tordilhos da Escola Espanhola de Equitação, na Áustria, e os Árabes do
criatório Janow Podlasky, na Polônia.
As tramas desse enredo foram intrincadas e envolveram alemães – amigos
e inimigos, russos, poloneses, austríacos e americanos. Num mundo em guerra, os
cavalos foram instalados em locais protegidos. Porém, ao longo dos anos em
conflito, a fome passou a assombrar cavalos e tratadores. Forças inimigas se
aproximavam tanto de um lado como do outro. Os alemães lutavam para manter suas
posições, mas os russos, ofendidos pela invasão de seu país, chegavam
impiedosos, vingativos. Também estavam famintos e a carne de cavalo lhes era
apetitosa.
Demonstrações de bravura, de coragem, dedicação à preservação da arte
equestre e um profundo amor aos cavalos evitaram a extinção destes animais.
Houve o treinador austríaco que escondeu alimentos e material de
selaria precioso num vão de um castelo, ato que poderia ser considerado alta traição.
O veterinário alemão que convenceu um superior a se entregar aos inimigos para
que os cavalos pudessem ser salvos. O americano escolhido para negociar os
termos de rendição e que atravessou quilômetros na escuridão da noite, montado
num cavalo que não conhecia.
Não foi difícil obter a concordância do grande General Patton, um
cavaleiro por excelência, para que uma operação de resgate fosse montada. Seus
comandados conseguiram levar os animais a salvo, sem incidentes provocados pelo
inimigo. Das centenas de animais inicialmente reunidos pelos alemães, apenas
sobraram 50! Os tordilhos austríacos voltaram para casa. Parte da tropa de Árabes
poloneses retornou a Janow, e parte os americanos levaram para os EUA.
Entre os que atravessaram o oceano Atlântico estava o castanho Witez II,
cujo nome significa chefe, rei, guerreiro ou herói. Nascido na Polônia em 1938,
ele era uma das grandes promessas para a criação de Árabes do Janow Podlaski,
junto com seus dois irmãos Witraz e Wielki Szjlam, todos filhos de Ofir. No
início da guerra, Witez era um cavalo jovem que, durante um trajeto de remoção,
assustado com o som da artilharia, perdeu-se pela floresta... Foi por pura
sorte encontrado e levado para se juntar a um grupo de matrizes, separando-se
assim de seus irmãos.
Witraz e Wielki Szjlam foram os responsáveis pela reconstrução do
plantel polonês e Witez, na América, tornou-se “herói de guerra”. Além de
amealhar importantes prêmios em performance ele mesmo, seus filhos foram muito
apreciados. Sua fama ajudou a consolidar os alicerces da criação de cavalos da
raça Árabe nos EUA.
Quem se interessar por ler a história da busca do cavalo perfeito pode
recorrer ao recém lançado livro “O Cavalo Perfeito” da autora norte-americana
Elizabeth Letts, editado pela Panda Books. É emocionante acompanhar todos os
perigos superados por Witez, junto com outros tantos. Será que você tem em seu
plantel um descendente destes guerreiros?
No comments:
Post a Comment