Contar bênçãos
Imagine que você tem cavalos por
prazer, monta e/ou cria. Participa de competições, treina direitinho seu(s) animal(is)
e paga de seu próprio bolso suas inscrições, o transporte e todos os outros
encargos e filigranas que fazem parte ou que surgem. De repente, um grupo de
pessoas resolve criticar seus resultados. Como se você fosse jogador de futebol
e ganhasse rios de dinheiro para obter a vitória, como se vencer fosse nada
mais do que sua obrigação!
Tudo na vida tem seu “Lado B”,
embora o advento do CD no mundo musical tenha acabado com ele. Temos também a frente
e o verso, a cara ou a coroa. E coisas podem ser ditas ou inquiridas com
jeitinho, com diplomacia, com elegância. Não é AQUILO que se diz, mas a FORMA
com que se diz. Ninguém participa de uma competição com o intuito de perder —
até tem quem o faça, né gente, mas provavelmente deve valer uma boa grana para
fazê-lo. Coisas acontecem no meio do caminho, além da dura realidade de que: só
existe um primeiro lugar, um único segundo e assim por diante. Outra verdade
acachapante: só acontece com quem faz. E barbada é uma questão de sorte.
Invencibilidades existem para serem quebradas — e o são!
Aqui vai um segredinho ao pé do
ouvido: cavalos são seres vivos (Oh!), têm vontade própria (Ah!), são
suscetíveis a humores (Ih!)... Significando que não dá para controlar cem por
cento do tempo o que ele fará. Vai que justamente o animal mais bem cotado para
ser o número um encontra, como aconteceu com o Carlos Drummond de Andrade, uma
pedra em seu caminho?
Todo mundo quer ganhar, só que
nem sempre dá. Então, a gente pára e conta nossas pequenas bênçãos do dia-a-dia:
a simpática editora da revista não publicou aquela foto em que apareço de boca
cheia no jantar de confraternização. Ninguém me pegou com os pares de meia
desencontrados. Tinha água quente no chuveiro quando cheguei ao hotel de
madrugada. O locutor fala meu nome direitinho ao microfone. Todas as roupas
colocadas na mala são apropriadas para a temperatura do local da exposição. Um dos
juízes sempre gosta dos meus animais em pista, mesmo que os outros não...
A internet é sempre fonte de
novidades, informação e até de gotinhas de sabedoria: há aquela que compara um
punhado de sal colocado num copo e a mesma quantidade jogada num lago. Temos sempre
que olhar além do meio palmo à frente do nariz, treinar a visão para o que pode
estar oculto e tirar a melhor lição do ocorrido. E principalmente, não pegar
aquela pedra ali de cima e jogar no outro.
Pois agora, águas passadas,
estamos todos com as turbinas quentíssimas, cascos pintados, crinas frisadas —
há quem prefira uma chapinha —, pêlo brilhando, prontos para arrecadar os
pontinhos que nos separam da grande Nacional. Ou até já há quem os tenha e só
participa da competição pelo prazer — olha só que bênção! Por falar nisso, você
conferiu as contas? Não queira passar pelo risco de contratar apresentador,
chegar até o parque de exposição e não poder entrar na arena por causa de uma soma
errada...
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