Em Meio a Rosas
Nour dirige como todos por esta parte do mundo: um doido, mas ele é bom no que faz. O caminho pela estrada é de pavimento novo e bem sinalizado. O destino final é a cidade de Petra na Jordânia. Dentro do carro, fornido de muita água gelada e tâmaras in natura, o ar condicionado é mandatório, já que a temperatura alcança picos de calor. Enquanto isso, o guia Mahmoud nos doutrina sobre o que é ser árabe num mundo que, por muitas vezes, encara este ser com desconfiança. Ele nos levou para o melhor restaurante que experimentamos em nossa aventura por essas partes do Oriente Médio: o Don Quixote (Tawaheen Al-Hawa Don Quichotte) em Amã. Um banquete infindável, uma festa para o paladar.
Petra
é uma cidade escavada na pedra rosa e vermelha das montanhas de Wadi Musa,
trabalho feito pelo povo Nabateu cerca de 312 a.c., quando estes controlavam o
comércio de especiarias da região. Nada melhor do que metamorfosear-se em rocha
num local cuja natureza é eternamente mutante e num mundo de disputas acirradas
por poder. Hoje, eleita Patrimônio da Humanidade pela Unesco e votada como uma
das Sete Maravilhas do mundo moderno, é um museu a céu aberto.
Carros
são proibidos de se aproximar do sítio arqueológico, mas há muitas outras opções
de acesso: cavalos, camelos, burros, carrinhos que fazem lotação de seis
pessoas dirigidos pelos (loucos) beduínos, ou até mesmo a prosaica e boa forma
de transporte “a pé”. Entre as montanhas, no corredor do cânion (Siq) onde não
bate sol, o ar é fresco, porém, no geral, usa-se chapéu junto a protetor solar
em volumes industriais. Qualquer desconforto é esquecido em meio aos depósitos
sedimentares róseos-avermelhados nos quais os antigos gravaram em desenhos as
caravanas que por ali passavam, ladeando o sistema de captação de
água e canalização escavado na pedra, que serpenteia a uns metros do chão.
Gregos,
romanos e bizantinos estiveram em Petra e deixaram suas marcas, como as
colunatas, os templos, e o monastério. No teatro iniciado pelos Nabateus para
4.000 pessoas e ampliado para 7.000 pelos romanos, o guia nos convida a gritar
para sentir a capacidade acústica local.
Um
sem número de tumbas reais polvilham as escarpas das montanhas. Al-Khazneh
(tesouro) é o nome dado à mais importante edificação local, presumivelmente o
mausoléu de um rei nabateu, Aretas IV, com suas colunas, capitéis, frisas e figuras
esculpidas no arenito rosa e vermelho. Logo em frente, camelos ficam à
disposição daqueles que ousam subir em suas corcovas; vendedores ambulantes
oferecem colares, gutras e trajes coloridos. À volta, em cavernas nas escarpas,
notamos residências de beduínos que, efetivamente, ali moram. Mahmoud conta um
segredo: na verdade, todos eles têm casas normais na cidade, mas vêm para cá na
temporada de turismo.
Petra
e suas ruínas foram cenário dos filmes Indiana Jones e a Última Cruzada,
Transformers e Mortal Kombat, da mesma maneira da novela Viver a Vida.
E
já que estamos em Amã, queremos tentar a sorte: visitar o haras real, criatório de
cavalos Árabe, assim, sem hora marcada? O motorista Nour talvez conheça
alguém... Seria espetacular ver aquela campeã internacional; aquelas belíssimas
fêmeas tordilhas e o jovem garanhão de pelo escuro; admirar todos aqueles olhos
fenomenais, quase do tamanho de bolas de sinuca; sentir o cheiro do feno
cortado que brilha de tão verdinho sobre o terreno branco e arenoso; conhecer a
coleção de trajes típicos; apreciar as construções clássicas em meio às exuberantes
roseiras de todas as cores... Quem sabe?
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