Extrato do mais novo romance de Nancy de Lustoza Barros e Hirsch: Carrossel
"Ique tinha os pés mergulhados no açude e Houdini, que nos acompanhara, escarafunchava a beira. Ele protegeu os olhos do sol com a mão e avaliou minha birra. Eu continuava na sela, de cara fechada. Ele sorriu. Sei que meu irmão apreciava meu lado teimoso, era um desafio para que treinasse seu poder de persuasão.
- Estão no embornal do Koal, você só tá perdendo tempo e fica enrolando. Imagine aqueles peixes fritos na fogueira! Anda logo, moleque!
Já que era assim, se eu não precisava escarafunchar na terra atrás de isca... Amarrei as rédeas do Knight, meu alazão avermelhado, numa touceira de bambu e peguei o saco de tecido que fazia movimentos suspeitos na sela de caubói do Ique. Segurei-a por uma pontinha, bem longe do corpo e a depositei no chão, perto das varas de pescar e das sandálias de meu irmão. Olhei para a cara dele e tive certeza de que não eram minhocas ali dentro. Os grunhidos de Houdini reforçaram ainda mais minha convicção.
- Prefiro ir pro curral agora! Tchau.
Nem me preocupei em dar uma desculpa para minha deserção. Para não escutar os protestos de Ique, me afastei do rio cantando em altos brados. O cão preferiu continuar com meu torturador, o traidor."
foto: girlinaboyhouse
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