Wednesday, 23 May 2018

Trocando um Lero com seu Cavalo




Texto publicado numa Revista Cavalo Árabe de 2017


“Aí, amigão, que tal um ranguinho agora?”
É uma alucinação ou Pégaso realmente pediu a ração? Cavalo fala? De certo modo, sim! Ele tem um jeitinho muito peculiar, muito próprio de se comunicar, mas passa o recado direitinho. Basta observar. Há estudos feitos nos mais diferentes países sobre o comportamento dos equinos e a conclusão é sempre a mesma. Assim como barata voa e macaco quer banana, cavalo “fala”.
Sociável e estrategista, a evolução ensinou ao cavalo que a vida em grupo é muito valiosa e o ajuda a sobreviver, a se proteger e até a aprender, daí ele se comunica. Os testes que envolvem o pedido de alimentação são usados por todos os estudiosos do comportamento equestre e os resultados apontam a capacidade de raciocinar e se organizar do cavalo. Um balde seja de cenouras, maçãs ou ração é deixado do outro lado da cerca pelo tratador, que entra no piquete e apenas observa o animal. O cavalo vê a guloseima e tenta mostrar ao tratador que quer comer. Ele vai usar sinais táteis e visuais para exigir sua boia: alternar seu olhar entre o tratador e o balde é o primeiro estratagema. Caso não funcione, o animal inclui balançar a cabeça, girar a cauda e mover a cabeça na direção de seu “prêmio”.
No meio desses experimentos notou-se que o cavalo percebe quando uma pessoa está prestando a atenção nele, ele procura o contato olho no olho! Caso isto não aconteça, o animal anda até o tratador para tocá-lo. Isso vale tanto para o Pégaso pimpão da tropa como para o Rocinante mais apático do piquete. Ele sabe o que quer e intenciona fazer o necessário para alcançar seu objetivo.
Na Noruega, 23 equinos aprenderam a escolher entre usar capa de frio ou não, apontando com o focinho para uma placa específica: um traço horizontal significa colocar capa. O traço vertical significa tirar a capa e a placa em branco significa que o animal não quer mudar o estado em que se encontra. Foram duas semanas e de 10 a 15 minutos de treinos diários para que os cavalos de diferentes raças entendessem o processo (o estudo não divulgou a quantidade consumida de cenoura). Notou-se que as escolhas feitas eram sempre de acordo com a temperatura externa: capa para a chuva e o frio, sem capa nos dias ensolarados.
Pégaso não é burro, ele pode ler a sua expressão corporal e mesmo a facial. Caso transpareça raiva em seu rosto, ele tenderá a inclinar a cabeça e dirigir o olho esquerdo para você. As imagens captadas com este olho são levadas para o hemisfério direito do cérebro de mamíferos, onde os sentimentos negativos são processados. Além disso, o batimento cardíaco do cavalo vai aumentar! Todos sabemos que nossas montarias prediletas respondem aos nossos comandos físicos, mas os experts estão apostando que, se os equinos têm uma linguagem entre si através de relinchos específicos diversos, assim que nós, meros humanos, os decifremos, teremos alcançado o nirvana equestre.
Paulinho era um garanhão árabe, tordilho imponente, com 75% de sangue egípcio, de boa índole, habituado ao trato muito próximo com humanos, em função do tempo em que esteve sob cuidados, vítima de um encontro quase fatal com uma cerca farpada. Tratava a todos com plácida indiferença, a única exceção à regra era seu próprio dono, sabe-se lá o porquê. Houve um tratador que fazia questão que o branco do tordilho fosse branco-omo, coisa com a qual Paulinho não concordava. Bastava sair do banho caprichado que imediatamente rolava no chão. O tratador não escondia seu desagrado e o clima foi ficando cada vez mais tenso, até que um dia, Paulinho arrastou o homem pelo ombro com os dentes por alguns metros. Salvaram-se todos ao final, mas a pergunta que fica é: o que terá enfim provocado a reação de Paulinho? A voz do homem, a mão do homem, o rosto do homem, ou tudo junto e misturado? Há estudos por aí de todos os tipos, quem sabe a gente ainda vai descobrir?

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