Uma revista tem duas formas de contar histórias, através dos textos e através das imagens. As fotografias têm um apelo maior ao leitor porque capturam nossa atenção de imediato. Seja por um impacto ou por um detalhe. Sabemos que fotografar cavalos não é fácil, não raro o animal fica distorcido, pouco natural. É preciso desenvolver a técnica e, obviamente, ter sensibilidade para retratar o melhor momento.
Conheçam alguns dos
fotógrafos do Cavalo Árabe no Brasil: Rogério Santos, Luiz Rocco, André Shiwa,
Renato Sorvilo e Leonardo (Tupa) Rafalovich respondem a nossas perguntas.
Extensão de Casa
Como
surgiu a fotografia de cavalos em sua vida?
“As
baias eram uma extensão de casa”, diz Renato Sorvilo, que cresceu frequentando
o haras da família. As fotos de Chico Audi, Stuart Vesty e Gigi Grasso o
inspiraram a seguir a profissão. Luiz Rocco já fotografava iatismo e corridas
de motos quando assumiu o jornalzinho da ABCCA em 1983 e precisou de imagens
para ilustrar matérias. Rogério Santos seguia o caminho do fotojornalismo
quando clicou um cavalo Árabe pela primeira vez em 1986 em São João da Boa
Vista para a revista Desert News. Da mesma forma, André Shiwa trabalhava como
fotógrafo part-time para o segmento de beleza e moda; adquiriu seu primeiro
Árabe no início de 2000 e a oportunidade surgiu. Leonardo (Tupa) Rafalovich
acompanhava o pai, fotógrafo de hipismo e polo, e iniciou seus cliques aos 12 anos
numa prova de salto.
André
Shiwa diz: “Tive uma pequena e curtíssima experiência... Nascidos, uma fêmea
(que tenho até hoje) e dois machinhos.” Renato
Sorvilo conta: “Como
disse, minha família cria cavalos desde 1992. Cresci no meio deles, aprendi a
ver os animais desde novo. É sempre muito gratificante assistir a um nascimento
e ao passar dos anos acompanhar gerações, ver sua criação tomar o rumo que
pretendia. A experiência sempre é única e a maior consagração são os títulos e
alegrias que vêm junto no pacote.” Leonardo (Tupa) Rafalovich responde: “Nunca
criei.” Luiz Rocco informa: “O Haras Clio
já tem 38 anos e nosso maior orgulho são as 3 Campeãs Nacionais que criamos.”
Rogério Santos relata: “Tive 3 éguas, mas criei com apenas uma,
a FAI Murana filha de Shaick Shaklan. Ela me deu um Campeão Nacional de
Western, Cezanne; um Campeão de Tambor Salvvatore e uma linda potra, La
Fortunata por Power World que foi Reservada Campeã em Las Vegas.”
Conte
uma situação marcante (não necessariamente com cavalo) numa fazenda.
A
ideia era criar imagens artísticas com composições que capturassem os cavalos e
a paisagem do Haras Santo André do Sr. José Eduardo e André Guimarães (MT),
relata André Shiwa. “Com os primeiros raios de sol, preparamos tudo, éguas
tordilhas, equipe posicionada, mais a "arma secreta" para o sucesso
das fotos (rs). Tentamos uma em que as fêmeas pastavam à beira do lago. Mas,
quando se trata de fotos de cavalos, nem tudo sai como definido no
"script" (rs). Algumas éguas acordaram endiabradas e não foi possível
ter a paz desejada. Após vários cliques, elas corriam, algumas de orelha
murcha, decidi parar e observar o grupo. Identifiquei as encrenqueiras e
decidimos tentar com a luz da tarde, sem a presença delas. Então, outro
obstáculo: o tempo. O céu fechou e uma tempestade se aproximava. Éguas a postos
harmoniosamente como precisávamos, faltava a luz necessária. Posicionado na
margem oposta do lago, aguardava a providencial brecha no céu. Os assistentes
atrás de mim esperavam um sinal para chamar a atenção das éguas com uma lona
para eu fazer o clique. A luz finalmente veio, os assistentes agiram conforme
ensaiado... Considero o resultado um dos meus melhores. Infelizmente, eu tinha
na época um equipamento da 1ª. geração de câmeras digitais, e não proporcionava
um arquivo com a qualidade que essa imagem merecia. Essa experiência no Santo
André, apesar do calor absurdo, foi inesquecível e deixou saudades. Sem dúvida,
a melhor equipe de haras com quem já trabalhei até hoje.”
A primeira ninguém
esquece
Recordação
impactante de uma exposição.
Rogério
Santos afirma: “Foi a minha primeira Nacional em 1986. Um espetáculo
lindo, maravilhoso, inesquecível!” Luiz Rocco e a 13ª. foto: “Certa vez cobrindo uma exposição em Itapetininga eu
já havia encerrado os cavalos e não tinha mais filmes comigo para usar e foi um
tal de pedirem fotos com o prefeito, vereador, presidente do sindicato rural,
etc. Foi um tal de dar “chapa 13” em todo mundo, que no jargão antigo do
fotojornalismo seria fingir que se tira uma foto, isso quando os filmes tinham
apenas 12 fotos.” André
Shiwa lembra: “Na minha 1ª. viagem à Arábia Saudita, no Al Khaledia Farm, o
handler Terry Holmes (que na época já não era nenhum jovenzinho) correu de
forma absurda por praticamente 2 laterais da enorme pista trotando o cavalo
Nesj El Khidars Treasure, e quando passou por mim (que estava do outro lado da
pista) com o cavalo ao passo, nem parecia que tinha feito tamanho esforço.” Renato
Sorvilo conta: “As 2 passagens mais marcantes com toda certeza foram a
consagração do campeonato da Breeder’s Cup em 2013, com a Querydda Sams sendo Pemium
Cup, e o Campeonato Cavalo de 2009 com Form Carrilon, para mim ambos os maiores
prêmios que um criador pode ter no país.” Leonardo
(Tupa) Rafalovich diz: “Nossa! Foram tantas Exposições! Não me lembro de
algo tão marcante.”
Dos
equipamentos fotográficos que já usou, qual o seu preferido? Fale sobre a
evolução deles.
Leonardo
(Tupa) Rafalovich avalia: “Meu preferido é a Canon que comprei recentemente;
não possui mais espelho, e tem uma velocidade de foco e qualidade incrível!
Comecei com filme, passei para digital, e as máquinas vão evoluindo lentamente,
agora estão num patamar que considero altíssimo.” Renato Sorvilo diz: “No
início usava filmes 35mm da Kodak e uma câmera Minolta, mas com o aperfeiçoamento
para digital logo passei a usá-lo. Minha preferência sempre foi por Canon que
desde o início teve melhor foco e custo benefício, mas creio que hoje é bem
similar às demais. Constantemente são lançadas novas câmeras, é difícil
acompanhar o mercado: um conjunto de câmera e lentes de qualidade tem valores
elevados. Tive a oportunidade de manusear os melhores equipamentos profissionais
do mercado e se fosse optar por um seria a Hasselblad, fabricante das melhores
câmeras e lentes disponíveis.” André Shiwa avalia: “Canon, que uso desde 1989, principalmente
para fotografar qualquer coisa que se movimente rápido e erraticamente. A precisão
de foco automático da Canon para este tipo de fotografia ainda é superior. Hoje,
para fotografar pessoas, viagens, paisagens, etc, eu utilizo mais minha câmera
da Fujifilm. Luiz Rocco considera: “Só usei
Nikon até hoje, sempre fui fiel à marca. E nunca usei uma totalmente
profissional, a que uso desde 2009 é uma D90, que é semiprofissional. Um curso
que fiz com o famoso Jerry Sparagowski me mostrou que não é preciso ter uma
máquina de última geração. O timing é o que importa.” Rogério Santos relata: “Meu
equipamento preferido é o da Nikon. Comecei, é claro, fazendo em câmaras
analógicas, fotografava e revelava meus próprios filmes. A fotografia digital
aconteceu em minha vida na Nacional de 2003. Não gosto de dizer que evoluiu,
mas mudou muito. Tive que reaprender a operar o equipamento, no entanto a
essência continua a mesma.”
Rogério
Santos: “Como o cavalo é um assunto difícil de ter controle
total muitas vezes o tempo de trocar as lentes faz com que se perca momentos
fotográficos importantes, que jamais te serão restituídos. Para exposições eu
gosto de usar a zoom 100/400 e para fotos em Haras zoom 80/200, as duas da
Nikon.” Luiz Rocco:
“Não troco as lentes pois uso um
zoom que vai de 70 a 300mm que mesmo não tendo uma luminosidade ideal é bem
versátil.” André
Shiwa: “Geralmente, em sessões fotográficas de cavalos, não.” Renato Sorvilo: “Com
certeza depende muito de cada situação e a distância e onde será a sessão, para
cada tipo de imagem uso um conjunto diferente.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Utilizo
uma 70 200mm ou uma 100 400mm dependendo da luz ou distância que preciso trabalhar.”
Qual
a luz e o horário que mais lhe agradam? A pelagem de um cavalo pede manhã,
tarde, ocaso?
André
Shiwa avalia: “A melhor qualidade de luz está não só no horário do dia, mas
também na época do ano. Prefiro o outono e o inverno, horários em que o sol
esteja baixo, seja de manhã ou à tarde. Fotografar em finais de tarde, nos
casos de fotos mais artísticas. Quanto às pelagens, tordilhos (bem claros)
pedem uma luz ainda mais suave. Para os castanhos escuros e negros, procuro
usar a luz a favor e evitar direção de luz que cause sombras pesadas na cabeça
e também a contraluz. Sem as condições de luz ideais, fazemos o melhor possível
com as condições presentes.” Leonardo (Tupa) Rafalovich diz: “Sempre de manhã
cedo ou fim de tarde. Com essa luz consigo uma imagem com traços mais suaves.” Luiz
Rocco conta: “Gosto de
fotografar no período da manhã, as cores são mais neutras e começo sempre com
os tordilhos. À tarde os tons mais quentes do Sol dão fotos mais bonitas, com
chance de se fazer algo mais elaborado.” Renato
Sorvilo comenta: “A luz que mais me agrada é bem cedo ou final de tarde; a luz
tem que iluminar o cavalo como um todo, detesto luz dura!!! Ao meu ver a
pelagem não influencia tanto no horário, mas sim o tipo de luz que reflete
nele.” Rogério Santos pondera: “Meus horários preferidos são entre 16 e 17h e
também 7 e 8h. Considero a luz da manhã mais vibrante e da tarde mais suave. O
importante é evitar horários em que a luz projeta muita sombra.”
Existe
cavalo que não seja fotogênico?
Luiz
Rocco: “Sim, existe o cavalo emburrado,
que não gosta de pressão ou muito movimento ao redor dele. Tem também aquele
que é bem mais bonito ao vivo do que nas fotos.” Rogério Santos: “Tem cavalos lindos que não têm tanta
expressão e cavalos que parecem se expressar o tempo todo”. André Shiwa: “Existe
sim, assim como pessoas. Veja que interessante, há cavalos que ao vivo
impressionam plasticamente, mas que em fotos, todos os detalhes são
"congelados", e não aparecem tão bonitos.” Renato Sorvilo: “É muito
louco pensar nisso, mas para mim, existem cavalos que não são fotogênicos e também
existem cavalos que um determinado lado é melhor que o outro. Tento sempre
antes de começar a sessão analisar o cavalo e pensar qual o angulo vai favorecê-lo.”
Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Sim, alguns podem até ser bonitos e bem
conformados, mas não fotografam bem.”
O cavalo em primeiro
lugar
Antes
do evento da câmera digital, gastava-se muito papel para imprimir todas as
fotos tiradas e escolher as melhores. Hoje em dia o processo é mais rápido, no
entanto, o volume de imagens aumentou exponencialmente. O que você prioriza
para escolher entre tantas?
Rogério
Santos: “A minha prioridade é o cavalo, depois vejo a qualidade técnica
da foto. É claro que no digital se gasta mais tempo pois se fotografa muito
mais, cerca de 5 vezes mais, que as câmeras analógicas, mas a chance de obter
melhores imagens aumenta na mesma proporção.” Luiz Rocco: “Mesmo com um volume grande de fotos, o computador
facilita na hora de escolher as melhores. O que não pode haver nessa hora é
dúvida do que é bom e o que é ótimo.” Leonardo
(Tupa) Rafalovich: “Em primeiro lugar algumas características morfológicas
apreciadas pelos criadores. Ou pelo equilíbrio do animal todo na foto ou por
alguma característica muito marcante. Em segundo lugar vem o fundo.” André Shiwa:
“Faço uma pré-seleção e depois vou refinando essa seleção. Minhas prioridades
são: Qualidade técnica da imagem (foco e exposição), composição (que no caso de
fotos de cavalo tem muito a ver com o "timing").” Renato Sorvilo: “Hoje não há limites desde que tenha memória pra isso (rs).
O processo agora é tão demorado quanto antes devido ao número de imagens que se
tem de cada animal, em minha seleção sempre priorizo a que mostre melhor o
animal e que vá causar impacto no observador. É sempre difícil ter imagens que
superem as expectativas dos clientes então, sempre mando uma seleção de 10 a 15
imagens para que possamos escolher juntos.”
Renato
Sorvilo: “É difícil ter uma preferida, cada imagem retrata um tempo, mas se
fosse escolher uma seria a foto do Form Carrilon que fiz nas baias do Longuini
em Boituva. Minha preferência é sempre pelas fotos de movimento, não há nada
mais bonito que a sincronia das crinas, do topete e da cauda com a conformação
de um cavalo Árabe. Para mim é um animal único, que permite fotos deste gênero
com a beleza ímpar da raça.” André Shiwa: “De cavalo árabe, creio que não
consigo eleger apenas uma preferida. Acho que tenho umas 5 fotos preferidas
(rs). Um retrato, duas de movimentação, uma de composição e acho que apenas uma
de halter.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Nossa! São muitas! Mas uma marcante é
a foto da Renee El Jamaal tirada no CT Chiquinho Rego.” Luiz Rocco: “Gosto de fazer halter de corpo inteiro, tenho
várias prediletas mas as que mais gosto são uma do Ali Jamaal relinchando e uma
do CG Balih El Jamaal. Já em movimento a foto da NV Angélica que virou capa de
livro internacional.” Rogério
Santos: “Eu gosto mais das fotos em movimento, é onde o cavalo Árabe
mostra todo o seu diferencial. Sua nobreza, seu carisma, sua intensidade são momentosos.
É difícil escolher depois de ter fotografado tanto, mas estou gostando de duas
fotos que fiz na Nacional passada, as duas em movimento, uma mais ostentosa do
El Jahez ao trote de entrada em pista e outra mais solene da Lumiar Ethna ao
passo.
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