Dois Olhos
Foi percebendo que o tempo
invadiu meu corpo-alma
filho do homem, do universo-coração,
pulsante e aberto a meus olhos
de lágrimas e a minha boca
semi-fechada, apenas na expectativa
do novo verbo sem vícios;
foi percebendo que o vento
varria os resíduos de ontem
e o verbo primitivo, pedante
e moribundo na sua
lepra sem cura, atromentando
os herdeiros presentes, hesitantes
e insensíveis, nutrindo apenas
sua úlcera a cada novo sol;
foi percebendo o horizonte em
sua magnitude e atravessando
os arco-íris quase extintos
e percorrendo os caminhos
molhados de sangue, onde os ratos
famintos disputavam os vermes do mundo,
que descobri dois olhos jogados
no chão, sujos de lama, mas brilhantes no seu olhar para as estrelas.
Olhei para o céu e vi o universo sorrindo.
STOS
janeiro 1975
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