Artigo publicado na última revista do Cavalo Árabe
Para cima ou para baixo?
Há dois mil e trezentos anos atrás, durante o Império Romano, demonstrações de entretenimento eram habituais em grandes arenas e é dessa época que vêm os gestos de “positivo” ou “negativo”, ou seja, a mão fechada com o polegar estendido para cima ou para baixo, indicando aquilo que agrada ou não. Os governantes tinham o poder de dar a vida a um guerreiro que participava de uma luta contra animais selvagens ou a um palhaço que divertia a plateia, levantando o dedo, ou enviava-os para a morte se mostrasse o dedo para baixo. A multidão expressava sua opinião em aplausos ou vaias e clamava por seus prediletos, ou manifestava seu desagrado aos que caíam em desgraça. O circo para o povo daqueles tempos era muito parecido, por exemplo, com as partidas de futebol e suas torcidas da atualidade.
Hoje em dia, civilizados que nos tornamos, cometer ou até mesmo assistir a crueldades gratuitas e incentivá-las tornou-se politicamente incorreto. E é muito saudável que o público demonstre seu gosto e seu desgosto todas as vezes que assistir a atos violentos desnecessários. Os “disque denúncia” estão à mão de qualquer pessoa mais esclarecida e sensibilizada: reclama-se seja através de um telefonema, uma carta, uma mensagem de correio eletrônico. Os serviços de atendimento ao consumidor, as ouvidorias, aquelas pessoas com o título engraçado e pomposo de “ombudsman”, são todos colocados à disposição para receber reclamações, esclarecer dúvidas, enfim, tornar a vida mais fácil.
E quem não quer uma vida mais fácil? Muitos, podemos responder, porque a pessoa que acorda altas horas da madrugada para se exercitar numa academia de ginástica não quer mansidão... Ou quer? E aquela que se submete a dietas de fome para perder os quilinhos a mais? O que dizer dos que procuram um tatuador ou penduram um piercing no nariz? A lista dos que não se incomodam com dor é grande, mas há os mais sensíveis, ou mais preguiçosos, que dormem até mais tarde e cujo rosto é descansado, o gordinho e a gordinha que circulam por aí com charme, e quem disse que o brinco na orelha não é piercing, já absorvido pela nossa cultura?
Só que, até então, mencionamos pessoas que podem escolher sofrer, são donas de suas vontades e de seus raciocínios. Mas não é possível colocar em situação desconfortável aqueles que não têm como reclamar da dor. Como, digamos, fazer uma criança usar salto alto, um gato beber café, um cachorro nadar de costas, um cavalo andar em duas patas...
A associação de criadores empossou um conselho de juízes e julgamento para lembrar que há um regulamento de exposições e provas a ser obedecido, principalmente no que se refere a maus tratos e abusos. Manifeste-se, use o seu gesto de positivo para vida longa ao cavalo Árabe!
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