Friday 22 December 2017

Merry Hanuka, Happy Christmas


Queridos familiares: este ano não tem pavê! Vejam o motivo:


O CASO
Já que não vamos passar o natal aqui em Quatis – minha sogra declinou de ir para o Rio e como o almoço do dia 25 é lá em casa – CFH pediu que eu fizesse um doce só para nós três hoje. Pensei no bolo natalino do ano passado, mas eu o considerei como um fracasso – apesar dos elogios quanto ao sabor, a aparência ficou lastimável. Então, vamos do clássico pavê da Sil.

Não tínhamos todos os ingredientes em casa, o que significou uma corrida até o (bem sucedido e apreciado) supermercado Estrela. Cinco caminhões com produtos tomavam metade da rua e atrapalhavam a entrada da garagem do mercado. Conseguimos descer a rampa e havia apenas uma vaga disponível, daquelas coladas a um pilar. Melhor entrar de ré ou não se consegue sair. Fazer manobras num lugar escuro e apertado é uma façanha, mas – como diz o nosso presidente predileto (estou falando da Abcca): “A gente chega lá!”

Vamos precisar de creme de leite, leite condensado, biscoitos. Eu vi os ovos necessários na nossa geladeira, mas fico insegura quanto a leite e açúcar. Telefonamos para o fixo, ninguém atende. Chamamos o celular da dona da casa – vocês sabem que eu não apito nada lá -, sem conexão. Ligamos para o gerente do haras, mas ele não está perto. Finalmente, a cuidadora de minha sogra atende seu celular e recebemos o ok para o resto dos ingredientes.

O CAOS
Uma alma caridosa nos auxiliou a estacionar o carro. Na escada para o salão, uma mulher nos atropela. Começo a repensar o meu espirito cívico-natalino – vocês sabem que sou impaciente e de pavio curto. No corredor de enlatados matutinos, um atendente nos cumprimenta, chamando pelo nome: não temos a menooooor ideia de quem seja, talvez o filho do retireiro. O celular do CFH toca e ele começa a discutir com o jardineiro que apresentou um orçamento astronômico para três mudas de árvore da felicidade. Que felicidade, que felicidade, que felicidade. Eu me pergunto se não deveria ter tomado aquela metade de um calmante que está já há um tempo na minha caixinha de remédios.

Decido escolher uns limões para uma caipirinha e não consigo cortar o saco plástico do rolinho, vem uma tripa enorme na minha mão. Alguém me cumprimenta e eu tento lembrar quem é. Com certeza um contemporâneo da adolescência, mas, será que é ele mesmo? Uma pessoa habitualmente risonha e agora cara séria, aborrecida. Eu, hein? Tem uma mulher me encarando e me pergunto, será que conheço, quase certa de que não, deve ser coisa de cidade pequena...

Na confusão de atender o jardineiro e avisar no Rio que ele começa a plantar amanhã, perdi minha lista de compras. Procuro nos bolsos, no corredor, no carrinho, sem sucesso. Do supermercado já tenho tudo o que quero, mas faltam as coisas da farmácia. Remédio contra gripe – ontem ficamos no curral sob uma tempestade de ventos ímpios, que fustigavam alternando lados, e à mercê de granizo. Alka Seltzer porque o estômago nesta época do ano fica debilitado e... Sei lá mais o quê. Temos que tentar outra botica já que algo que CFH precisava estava em falta, mas começa a chover e não podemos ir a pé.

OCASO
Por fim, missão compras terminada, de volta à casa, separo os ingredientes, panelas, uma travessa bonita, talheres e batedeira. Fico gelada ao ver que só há 8 ovos e vou precisar de 4 – e se as claras em neve desandarem? Voltar ao mercado nem pensar. É só tomar bastante cuidado, tento me convencer. Gemas separadas, primeiro creme na panela: com a falta de costume do fogo de bujão a gás, fica tudo queimado. A secretária do escritório me liga e quer falar sobre pagamentos. O leite para mergulhar os biscoitos ferve e transborda. Os biscoitos estão todos quebrados no pacote. Preciso dizer o que aconteceu com as claras? Para culminar, a travessa não é reta e uma parte do doce escorre para fora.

Então a sobremesa de segunda-feira terá apenas rabanadas, pie de limón e sorvete! Eu até pensei em fazer surpresa pra vocês, mas nos próximos dias só entro na cozinha pra pegar água. Pensando bem, vou deixar uma garrafa sempre a postos na sala, pra só adentrar o local dos infernos uma vez, pela manhã. Quiçá ano que vem eu tento de novo.

Feliz Natal, um próspero ano novo e paz na terra aos homens de boa vontade!

1 comment:

  1. Querida Nan, isso só acontece com quem tem boa vontade de adoçar a vida dos outros! Não se aperreia, e mais do que nada, não desista, já que pelos ingredientes, quero saborear em 2018

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