Monday 8 April 2019

Arteira


Na revista Cavalo Árabe de Abril de 2019:


Tem gente que gosta de apreciar arte. Tem gente que gosta de fazer arte. Há pessoas que nascem para serem artistas; através de seu ofício, nos apresentam o belo, nos surpreendem. Este último é o caso de Amanda Saladini Vieira. Jovem carioca, frequentadora da serra e do litoral do Rio de Janeiro, sem nem ter ultrapassado ainda a barreira dos 30 anos de idade, desde pequena criar foi seu pendor. Em suas próprias palavras, conta: “me reconheço como desenhista desde pequena. É através das minhas ilustrações que sempre me permiti ter acesso a um mundo fantástico onde realizo meus sonhos, enfrento meus medos e realizo meus desejos.”

Talento indiscutível, Amanda é multitudo: ela faz esculturas, pinturas e animações... Ela é disputada para transformar em obras de arte portas de garagem, muros, paredes de consultórios dentários... Pode usar uma folha de papel, ou telas de pintura e mesmo madeiras. Como varinha de condão, traz seus crayons, ou o carvão e a tinta acrílica. Ela fotografa e faz filmes. E esta pimentinha não tem o menor problema em trabalhar na frente de uma plateia, que não atrapalha em nada sua concentração!

Foi um privilégio assistir aos primeiros passos de Amanda, ainda garotinha, no seu contato com um Árabe. Com curiosidade e total naturalidade acatou as instruções que lhe eram dadas da beira da cerca; acertou a postura e entrou no ritmo do cavalgar numa cadência perfeita.

Com o sorriso estrelado, a voz rouquinha e o charme esfuziante, a artista frequentou todos os workshops sobre cavalos que pôde: desde o western até a doma natural. Participou de diversas provas de enduro com todo o entusiasmo que lhe é peculiar.

Não foi surpresa para ninguém quando o Árabe passou a ser tema de destaque das obras de arte de Amandinha. Aliás, alguns também já emprestaram seus lombos como tela para suas pinturas ou participaram de seus experimentos fotográficos, seja quando se encarapitou no telhado de uma baia para ter uma perspectiva diferente de um tordilho ou nos ensaios noturnos com luzes e movimento.

Os equinos de Amanda podem ser verdes ou azuis. Eles voam ou bebem água numa fonte. São feitos de ondas do mar e também de galhos de árvores. Estão em bando ou um solitário animal passeia ao luar. Os cabelos de uma silhueta feminina delineiam o perfil de um cavalo. Potrinho e mãe trocam carinhos. Em uma animação, a figura feminina de uma índia caminha ao lado de um cavalo e o movimento de pernas dela se confunde com os das patas dele.

Como se fossem dois mundos diferentes, dois torrões de terra estão suspensos no ar. Um deles é habitado por um cavalo alazão ferrugem e o outro por um animal negro. Amandinha sabe que cavalos são animais gregários, então, em seu desenho animado, o negro toma impulso e, de um pulo, vai parar no pasto do vizinho. Resolvido o problema da solidão.

Mas Amanda e sua arte não podem ser contidas em apenas palavras e numa folha de papel. Elas precisam ser vistas e apreciadas. E nem é com a velocidade que a cibernética hoje nos impõe: há detalhes a serem descobertos; nuances a serem percebidas; ideias a serem absorvidas; cores a serem apreciadas; formas a serem admiradas e ousadias a serem aplaudidas.

No comments:

Post a Comment