Wednesday 15 May 2019

O Propósito


 Publicado na Revista Cavalo Árabe de julho de 2018

Quando esta revista Cavalo Árabe fechou, ainda não sabíamos o resultado da Copa Mundial de Futebol. Aliás, neste momento, na televisão sem som, jornalistas se preparam para narrar o jogo do Brasil com a Bélgica. O futuro vai nos contar como foi o desempenho da seleção, se a tática da equipe liderada por Tite funcionou com perfeição e, para aqueles que acreditam em sorte, se ela nos agraciou. Ao folhearmos esta edição, nossa torcida já será outra.

A concentração não é mais em torno dos canarinhos, mas dos cavalinhos – que os garanhões e eguaças perdoem o termo, mas é puro carinho. A torcida colorida, barulhenta e entusiasmada olha para uma pista de piso especial e não para o gramado verde cultivado da Rússia. A previsão de tempo é de dias de inverno ameno, secos e com muito sol. Das arquibancadas queremos apreciar o potencial, a essência do que é o cavalo Árabe brasileiro na atualidade; veremos o moderno que, como o futebol, vai flutuar diante de nós, chegará “na área” mostrando suas qualidades, sem burocracia ou retranca, tendo passado por toda uma campanha durante o ano para estar aqui, no Helvetia Riding Center, Indaiatuba, São Paulo.

Nosso ambiente é familiar, nossa contenda é amistosa, mas disputada, de alto desempenho. Não utilizamos o vídeo-arbitragem – a nova figura polêmica introduzida no mundo futebolístico, que faz a alegria de uns e a tristeza de outros, o tal do VAR. Não precisamos dele, nossos parâmetros são outros: concentram-se em requisitos físicos sutis, porém inequívocos. Jogadas ensaiadas? Sim, claro, a performance correta é fundamental. Arrancadas, fintas e passes não constam do nosso cardápio de demandas. Porém, exigimos uma presença que desequilibre o quadro geral, que se infiltre em nossas peles, em nossos corações, que conquiste, enfim, a posição máxima entre seus pares.

Nossos atletas não se envolvem no corpo-a-corpo, não rasgam meias ou camisetas, não dão cotoveladas; uma vez ou outra há um pisão aqui, outro ali, mas sempre involuntários, são apenas circunstanciais, pelo calor da disputa num espaço muito limitado. Se um deles rola pelo chão foi porque perdeu o equilíbrio genuinamente, sem dramas ou teatralidades. Nossos juízes não usam os cartões amarelo ou vermelho, mas suas determinações são igualmente definitivas. Um código de comportamento existe e deve ser respeitado.

Nas preliminares, alguns contenderes tomarão a liderança, mostrarão seu diferencial e vão requerer respeito. Aí, virão as finais. Sai na frente quem tem como tática uma apresentação impecável. O elemento surpresa é a atitude. Contra-ataques acontecem: quando no campeonato, um cavalo que não foi unânime em sua classe acaba por bater outro que obteve o primeiro lugar de todos os árbitros em sua categoria de idade. Não temos tiro de meta, escanteio ou cobrança de falta.

A disputa ocorre no tempo regulamentar. Destaca-se o melhor, sempre, mas o fator momento é a diferença de um chute espetacular a gol e o que bate na trave. E levanta a taça apenas um entre todos os demais.

Hora de mandar o texto para a gráfica, com a esperança de termos sido campeões e os desejos de uma grande Nacional a todos, pedindo licença, o hino brasileiro vai começar a tocar em Kazan.

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