Friday 16 October 2020

Na Cavalo Árabe


Contar Histórias

 Camisas velhas da seleção brasileira quando vitoriosa lavadinhas, cheirosinhas, só aguardando a hora da concentração para o jogo que já deve começar lá pro meio-dia. Televisão testada e revisada, pilha zero quilometro no controle remoto, poltrona bem na frente, reco-reco, apito e língua de sogra na mesinha do lado. Para concorrer com a vuvuzela a gente apela pra tudo. Vale até chocalho, bumbo e berrante. Juntar umas figas, umas ferraduras catadas por aí, resgatar o pé de coelho que o porteiro guarda com a chave da sua casa, acender um incenso básico, acordar com o pé direito, bate na madeira.

Vivemos nesta terra de encanto, que vira escrete de seleção a cada oportunidade, emoção a flor da pele e que também permite que misturemos as fés, superstições e crendices, porque não custa nada se prevenir. Falar em fé, que tal entrar no bolão do escritório? Afinal, quem não joga, não corre nem o risco de ganhar.

Todo mundo tem uma historinha pra contar de uma Copa qualquer. Tem aquela do guia de excursão que teve que ficar a noite toda, lá na Alemanha, ao lado do chefe da torcida de um timão, logo que o Brasil perdeu da Holanda em 1974, porque o cara queria se matar e tiveram que amarrá-lo na cama. E o fulano que em fevereiro de 2006 fez uma aposta ufanista numa casa de jogos na Inglaterra e faturou uma grana boa quando se pagava o inacreditável e, por que não dizer, insultante, sete por um na vitória canarinho?

Guardada com amor e carinho tem aquela camiseta de 1994, que era vendida nos portões dos jogos na Califórnia/EUA com as dez razões mais importantes para se amar o futebol brasileiro, tem listado nas costas: 1) Uma festa a cada jogo, 2) Cada gol celebrado de forma extravagante, 3) Gols — um monte deles, 4) Samba! Samba! Samba!, 5) Jogadores habilidosos e cheios de estilo que jogam na ofensiva, 6) Os maiores fãs no mundo todo, 7) Diversão — no campo e na plateia, 8) Cantar e dançar sem parar, 9) Pelé, 10) 1958, 1962,1970... 1994! E não deu outra.

Há um criador de Árabe que está na África do Sul, acompanhando a seleção brasileira, a trabalho, coitadinho! Será que consegue voltar de lá intacto depois do assalto das vuvuzelas? Ele conta que a camisa verde e amarela garante a entrada em qualquer lugar do mundo. Recebemos uma de presente dele, desenvolvida para ter um peso mínimo, fornecer conforto e ventilação e ser de baixo impacto ambiental — uma camiseta que equivale a oito garrafas de plástico recicladas. Fantástico. Ei, não adianta me perguntar quem ele é, que eu não digo de jeito nenhum.

Quem não gosta de futebol tem a chance de aproveitar os dias de semi feriado durante esta Copa do Mundo e passar um tempo com seus animais no haras. E se não for fácil chegar até lá, arranje um canto tranquilo da casa e coloque em dia as memórias de sua criação. Quantas histórias não temos para contar, desde o primeiro cavalo (este ninguém esquece), a primeira prova, o primeiro troféu, a primeira cria. É um bom momento de arrumar aquelas toneladas de fotografias, montar a sua própria saga. Essa que é um fio do tecido da criação do Árabe como um todo, com suas contribuições ao desenvolvimento e aprimoramento dela... Divirta-se e deixe a vuvuzela cantar lá fora.

Em tempo, ninguém merece aquele senhor do país vizinho cumprir a promessa de ficar pelado em público, né não? Pé-de-pato-mangalô-três-vezes.

 

No comments:

Post a Comment