Tuesday 28 September 2021

Artigo da Cavalo Árabe

Contar bênçãos

Imagine que você tem cavalos por prazer, monta e/ou cria. Participa de competições, treina direitinho seu(s) animal(is) e paga de seu próprio bolso suas inscrições, o transporte e todos os outros encargos e filigranas que fazem parte ou que surgem. De repente, um grupo de pessoas resolve criticar seus resultados. Como se você fosse jogador de futebol e ganhasse rios de dinheiro para obter a vitória, como se vencer fosse nada mais do que sua obrigação!

Tudo na vida tem seu “Lado B”, embora o advento do CD no mundo musical tenha acabado com ele. Temos também a frente e o verso, a cara ou a coroa. E coisas podem ser ditas ou inquiridas com jeitinho, com diplomacia, com elegância. Não é AQUILO que se diz, mas a FORMA com que se diz. Ninguém participa de uma competição com o intuito de perder — até tem quem o faça, né gente, mas provavelmente deve valer uma boa grana para fazê-lo. Coisas acontecem no meio do caminho, além da dura realidade de que: só existe um primeiro lugar, um único segundo e assim por diante. Outra verdade acachapante: só acontece com quem faz. E barbada é uma questão de sorte. Invencibilidades existem para serem quebradas — e o são!

Aqui vai um segredinho ao pé do ouvido: cavalos são seres vivos (Oh!), têm vontade própria (Ah!), são suscetíveis a humores (Ih!)... Significando que não dá para controlar cem por cento do tempo o que ele fará. Vai que justamente o animal mais bem cotado para ser o número um encontra, como aconteceu com o Carlos Drummond de Andrade, uma pedra em seu caminho?

Todo mundo quer ganhar, só que nem sempre dá. Então, a gente pára e conta nossas pequenas bênçãos do dia-a-dia: a simpática editora da revista não publicou aquela foto em que apareço de boca cheia no jantar de confraternização. Ninguém me pegou com os pares de meia desencontrados. Tinha água quente no chuveiro quando cheguei ao hotel de madrugada. O locutor fala meu nome direitinho ao microfone. Todas as roupas colocadas na mala são apropriadas para a temperatura do local da exposição. Um dos juízes sempre gosta dos meus animais em pista, mesmo que os outros não...

A internet é sempre fonte de novidades, informação e até de gotinhas de sabedoria: há aquela que compara um punhado de sal colocado num copo e a mesma quantidade jogada num lago. Temos sempre que olhar além do meio palmo à frente do nariz, treinar a visão para o que pode estar oculto e tirar a melhor lição do ocorrido. E principalmente, não pegar aquela pedra ali de cima e jogar no outro.

Pois agora, águas passadas, estamos todos com as turbinas quentíssimas, cascos pintados, crinas frisadas — há quem prefira uma chapinha —, pêlo brilhando, prontos para arrecadar os pontinhos que nos separam da grande Nacional. Ou até já há quem os tenha e só participa da competição pelo prazer — olha só que bênção! Por falar nisso, você conferiu as contas? Não queira passar pelo risco de contratar apresentador, chegar até o parque de exposição e não poder entrar na arena por causa de uma soma errada...

 

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