Thursday 18 November 2021

Revista Cavalo Árabe Novembro 2021

 Uma revista tem duas formas de contar histórias, através dos textos e através das imagens. As fotografias têm um apelo maior ao leitor porque capturam nossa atenção de imediato. Seja por um impacto ou por um detalhe. Sabemos que fotografar cavalos não é fácil, não raro o animal fica distorcido, pouco natural. É preciso desenvolver a técnica e, obviamente, ter sensibilidade para retratar o melhor momento.

Conheçam alguns dos fotógrafos do Cavalo Árabe no Brasil: Rogério Santos, Luiz Rocco, André Shiwa, Renato Sorvilo e Leonardo (Tupa) Rafalovich respondem a nossas perguntas.

 


Extensão de Casa

Como surgiu a fotografia de cavalos em sua vida?

“As baias eram uma extensão de casa”, diz Renato Sorvilo, que cresceu frequentando o haras da família. As fotos de Chico Audi, Stuart Vesty e Gigi Grasso o inspiraram a seguir a profissão. Luiz Rocco já fotografava iatismo e corridas de motos quando assumiu o jornalzinho da ABCCA em 1983 e precisou de imagens para ilustrar matérias. Rogério Santos seguia o caminho do fotojornalismo quando clicou um cavalo Árabe pela primeira vez em 1986 em São João da Boa Vista para a revista Desert News. Da mesma forma, André Shiwa trabalhava como fotógrafo part-time para o segmento de beleza e moda; adquiriu seu primeiro Árabe no início de 2000 e a oportunidade surgiu. Leonardo (Tupa) Rafalovich acompanhava o pai, fotógrafo de hipismo e polo, e iniciou seus cliques aos 12 anos numa prova de salto.

 Você já criou cavalo Árabe? Como foi a experiência?

André Shiwa diz: “Tive uma pequena e curtíssima experiência... Nascidos, uma fêmea (que tenho até hoje) e dois machinhos.” Renato Sorvilo conta: “Como disse, minha família cria cavalos desde 1992. Cresci no meio deles, aprendi a ver os animais desde novo. É sempre muito gratificante assistir a um nascimento e ao passar dos anos acompanhar gerações, ver sua criação tomar o rumo que pretendia. A experiência sempre é única e a maior consagração são os títulos e alegrias que vêm junto no pacote.” Leonardo (Tupa) Rafalovich responde: “Nunca criei.” Luiz Rocco informa: “O Haras Clio já tem 38 anos e nosso maior orgulho são as 3 Campeãs Nacionais que criamos.” Rogério Santos relata: “Tive 3 éguas, mas criei com apenas uma, a FAI Murana filha de Shaick Shaklan. Ela me deu um Campeão Nacional de Western, Cezanne; um Campeão de Tambor Salvvatore e uma linda potra, La Fortunata por Power World que foi Reservada Campeã em Las Vegas.”

 Endiabradas e encrenqueiras

Conte uma situação marcante (não necessariamente com cavalo) numa fazenda.

A ideia era criar imagens artísticas com composições que capturassem os cavalos e a paisagem do Haras Santo André do Sr. José Eduardo e André Guimarães (MT), relata André Shiwa. “Com os primeiros raios de sol, preparamos tudo, éguas tordilhas, equipe posicionada, mais a "arma secreta" para o sucesso das fotos (rs). Tentamos uma em que as fêmeas pastavam à beira do lago. Mas, quando se trata de fotos de cavalos, nem tudo sai como definido no "script" (rs). Algumas éguas acordaram endiabradas e não foi possível ter a paz desejada. Após vários cliques, elas corriam, algumas de orelha murcha, decidi parar e observar o grupo. Identifiquei as encrenqueiras e decidimos tentar com a luz da tarde, sem a presença delas. Então, outro obstáculo: o tempo. O céu fechou e uma tempestade se aproximava. Éguas a postos harmoniosamente como precisávamos, faltava a luz necessária. Posicionado na margem oposta do lago, aguardava a providencial brecha no céu. Os assistentes atrás de mim esperavam um sinal para chamar a atenção das éguas com uma lona para eu fazer o clique. A luz finalmente veio, os assistentes agiram conforme ensaiado... Considero o resultado um dos meus melhores. Infelizmente, eu tinha na época um equipamento da 1ª. geração de câmeras digitais, e não proporcionava um arquivo com a qualidade que essa imagem merecia. Essa experiência no Santo André, apesar do calor absurdo, foi inesquecível e deixou saudades. Sem dúvida, a melhor equipe de haras com quem já trabalhei até hoje.”

 Eis a história de Rogério Santos: Meu avô tinha uma fazenda de criação de gado em Itapetininga, na adolescência adorava ir pra lá nas férias. Certo dia estava com ele no pasto quando chegou um vizinho galopando um alazão e começou a conversar com meu avô. Enquanto eles conversavam comecei a observar o cavalo: não era muito alto, mas imponente, era irrequieto, mas não nervoso e muito bonito. Eles se despediram, o cavalo se virou num átimo e saiu num galope forte, só deu tempo de reparar a cauda levantada espalhafatosamente, escondendo o cavaleiro. Meu avô, vendo que eu observava o cavalo disse: "Esses cavalos Árabes são pequenos, mas ligeiros e bons de trabalho". Foi ali que conheci o cavalo Árabe, nunca mais me esqueci desse lindo alazão.

 Luiz Rocco e a deadline: “Num leilão do Haras Por do Sol eu tive apenas um dia para fotografar todos os 32 animais. Não paramos um minuto e deu tudo certo, graças ao Tião (que depois foi para o Haras Forx) e ao Mauro.”

 Renato Sorvilo considera: “Diria que foi quando vendi minha agência de publicidade e fui me aventurar nos EUA sem ter fechado trabalho com ninguém. Segui para Scottsdale com passagem de ida e volta e hotel para alguns dias. Bati na porta do Rodolfo Guzzo que me acolheu e acabei ficando mais tempo. Nesse momento comecei a trabalhar fora do país; Rodolfo e Sandro Pinha em minhas idas para lá sempre me ajudam com trabalho. Sou muito grato a eles pelas portas que me abrem.”

 Leonardo (Tupa) Rafalovich e um susto: “Meu Pai levou um coice de um garanhão PSI que estava rodando no cabo, ele acabou caindo e quebrando o braço.”

 


A primeira ninguém esquece

Recordação impactante de uma exposição.

Rogério Santos afirma: “Foi a minha primeira Nacional em 1986. Um espetáculo lindo, maravilhoso, inesquecível!” Luiz Rocco e a 13ª. foto: “Certa vez cobrindo uma exposição em Itapetininga eu já havia encerrado os cavalos e não tinha mais filmes comigo para usar e foi um tal de pedirem fotos com o prefeito, vereador, presidente do sindicato rural, etc. Foi um tal de dar “chapa 13” em todo mundo, que no jargão antigo do fotojornalismo seria fingir que se tira uma foto, isso quando os filmes tinham apenas 12 fotos.” André Shiwa lembra: “Na minha 1ª. viagem à Arábia Saudita, no Al Khaledia Farm, o handler Terry Holmes (que na época já não era nenhum jovenzinho) correu de forma absurda por praticamente 2 laterais da enorme pista trotando o cavalo Nesj El Khidars Treasure, e quando passou por mim (que estava do outro lado da pista) com o cavalo ao passo, nem parecia que tinha feito tamanho esforço.” Renato Sorvilo conta: “As 2 passagens mais marcantes com toda certeza foram a consagração do campeonato da Breeder’s Cup em 2013, com a Querydda Sams sendo Pemium Cup, e o Campeonato Cavalo de 2009 com Form Carrilon, para mim ambos os maiores prêmios que um criador pode ter no país.” Leonardo (Tupa) Rafalovich diz: “Nossa! Foram tantas Exposições! Não me lembro de algo tão marcante.”

 Patamar Altíssimo

Dos equipamentos fotográficos que já usou, qual o seu preferido? Fale sobre a evolução deles.

Leonardo (Tupa) Rafalovich avalia: “Meu preferido é a Canon que comprei recentemente; não possui mais espelho, e tem uma velocidade de foco e qualidade incrível! Comecei com filme, passei para digital, e as máquinas vão evoluindo lentamente, agora estão num patamar que considero altíssimo.” Renato Sorvilo diz: “No início usava filmes 35mm da Kodak e uma câmera Minolta, mas com o aperfeiçoamento para digital logo passei a usá-lo. Minha preferência sempre foi por Canon que desde o início teve melhor foco e custo benefício, mas creio que hoje é bem similar às demais. Constantemente são lançadas novas câmeras, é difícil acompanhar o mercado: um conjunto de câmera e lentes de qualidade tem valores elevados. Tive a oportunidade de manusear os melhores equipamentos profissionais do mercado e se fosse optar por um seria a Hasselblad, fabricante das melhores câmeras e lentes disponíveis.” André Shiwa avalia: “Canon, que uso desde 1989, principalmente para fotografar qualquer coisa que se movimente rápido e erraticamente. A precisão de foco automático da Canon para este tipo de fotografia ainda é superior. Hoje, para fotografar pessoas, viagens, paisagens, etc, eu utilizo mais minha câmera da Fujifilm. Luiz Rocco considera: “Só usei Nikon até hoje, sempre fui fiel à marca. E nunca usei uma totalmente profissional, a que uso desde 2009 é uma D90, que é semiprofissional. Um curso que fiz com o famoso Jerry Sparagowski me mostrou que não é preciso ter uma máquina de última geração. O timing é o que importa.” Rogério Santos relata: “Meu equipamento preferido é o da Nikon. Comecei, é claro, fazendo em câmaras analógicas, fotografava e revelava meus próprios filmes. A fotografia digital aconteceu em minha vida na Nacional de 2003. Não gosto de dizer que evoluiu, mas mudou muito. Tive que reaprender a operar o equipamento, no entanto a essência continua a mesma.”

 Você costuma mudar de lentes numa sessão fotográfica? Quais são as que usa?

Rogério Santos: “Como o cavalo é um assunto difícil de ter controle total muitas vezes o tempo de trocar as lentes faz com que se perca momentos fotográficos importantes, que jamais te serão restituídos. Para exposições eu gosto de usar a zoom 100/400 e para fotos em Haras zoom 80/200, as duas da Nikon.” Luiz Rocco: “Não troco as lentes pois uso um zoom que vai de 70 a 300mm que mesmo não tendo uma luminosidade ideal é bem versátil.” André Shiwa: “Geralmente, em sessões fotográficas de cavalos, não.” Renato Sorvilo: “Com certeza depende muito de cada situação e a distância e onde será a sessão, para cada tipo de imagem uso um conjunto diferente.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Utilizo uma 70 200mm ou uma 100 400mm dependendo da luz ou distância que preciso trabalhar.”

 


O artista e fotógrafo americano Man Ray (1890 – 1976) diz: a luz tudo transforma.

Qual a luz e o horário que mais lhe agradam? A pelagem de um cavalo pede manhã, tarde, ocaso?

André Shiwa avalia: “A melhor qualidade de luz está não só no horário do dia, mas também na época do ano. Prefiro o outono e o inverno, horários em que o sol esteja baixo, seja de manhã ou à tarde. Fotografar em finais de tarde, nos casos de fotos mais artísticas. Quanto às pelagens, tordilhos (bem claros) pedem uma luz ainda mais suave. Para os castanhos escuros e negros, procuro usar a luz a favor e evitar direção de luz que cause sombras pesadas na cabeça e também a contraluz. Sem as condições de luz ideais, fazemos o melhor possível com as condições presentes.” Leonardo (Tupa) Rafalovich diz: “Sempre de manhã cedo ou fim de tarde. Com essa luz consigo uma imagem com traços mais suaves.” Luiz Rocco conta: “Gosto de fotografar no período da manhã, as cores são mais neutras e começo sempre com os tordilhos. À tarde os tons mais quentes do Sol dão fotos mais bonitas, com chance de se fazer algo mais elaborado.” Renato Sorvilo comenta: “A luz que mais me agrada é bem cedo ou final de tarde; a luz tem que iluminar o cavalo como um todo, detesto luz dura!!! Ao meu ver a pelagem não influencia tanto no horário, mas sim o tipo de luz que reflete nele.” Rogério Santos pondera: “Meus horários preferidos são entre 16 e 17h e também 7 e 8h. Considero a luz da manhã mais vibrante e da tarde mais suave. O importante é evitar horários em que a luz projeta muita sombra.”

 Cavalo Emburrado

Existe cavalo que não seja fotogênico?

Luiz Rocco: “Sim, existe o cavalo emburrado, que não gosta de pressão ou muito movimento ao redor dele. Tem também aquele que é bem mais bonito ao vivo do que nas fotos.” Rogério Santos: “Tem cavalos lindos que não têm tanta expressão e cavalos que parecem se expressar o tempo todo”. André Shiwa: “Existe sim, assim como pessoas. Veja que interessante, há cavalos que ao vivo impressionam plasticamente, mas que em fotos, todos os detalhes são "congelados", e não aparecem tão bonitos.” Renato Sorvilo: “É muito louco pensar nisso, mas para mim, existem cavalos que não são fotogênicos e também existem cavalos que um determinado lado é melhor que o outro. Tento sempre antes de começar a sessão analisar o cavalo e pensar qual o angulo vai favorecê-lo.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Sim, alguns podem até ser bonitos e bem conformados, mas não fotografam bem.”

 


O cavalo em primeiro lugar

Antes do evento da câmera digital, gastava-se muito papel para imprimir todas as fotos tiradas e escolher as melhores. Hoje em dia o processo é mais rápido, no entanto, o volume de imagens aumentou exponencialmente. O que você prioriza para escolher entre tantas?

Rogério Santos: “A minha prioridade é o cavalo, depois vejo a qualidade técnica da foto. É claro que no digital se gasta mais tempo pois se fotografa muito mais, cerca de 5 vezes mais, que as câmeras analógicas, mas a chance de obter melhores imagens aumenta na mesma proporção.” Luiz Rocco: “Mesmo com um volume grande de fotos, o computador facilita na hora de escolher as melhores. O que não pode haver nessa hora é dúvida do que é bom e o que é ótimo.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Em primeiro lugar algumas características morfológicas apreciadas pelos criadores. Ou pelo equilíbrio do animal todo na foto ou por alguma característica muito marcante. Em segundo lugar vem o fundo.” André Shiwa: “Faço uma pré-seleção e depois vou refinando essa seleção. Minhas prioridades são: Qualidade técnica da imagem (foco e exposição), composição (que no caso de fotos de cavalo tem muito a ver com o "timing").” Renato Sorvilo: “Hoje não há limites desde que tenha memória pra isso (rs). O processo agora é tão demorado quanto antes devido ao número de imagens que se tem de cada animal, em minha seleção sempre priorizo a que mostre melhor o animal e que vá causar impacto no observador. É sempre difícil ter imagens que superem as expectativas dos clientes então, sempre mando uma seleção de 10 a 15 imagens para que possamos escolher juntos.”

 Você tem alguma foto que seja a sua preferida entre as milhares que já tirou? Em halter? Em movimento?

Renato Sorvilo: “É difícil ter uma preferida, cada imagem retrata um tempo, mas se fosse escolher uma seria a foto do Form Carrilon que fiz nas baias do Longuini em Boituva. Minha preferência é sempre pelas fotos de movimento, não há nada mais bonito que a sincronia das crinas, do topete e da cauda com a conformação de um cavalo Árabe. Para mim é um animal único, que permite fotos deste gênero com a beleza ímpar da raça.” André Shiwa: “De cavalo árabe, creio que não consigo eleger apenas uma preferida. Acho que tenho umas 5 fotos preferidas (rs). Um retrato, duas de movimentação, uma de composição e acho que apenas uma de halter.” Leonardo (Tupa) Rafalovich: “Nossa! São muitas! Mas uma marcante é a foto da Renee El Jamaal tirada no CT Chiquinho Rego.” Luiz Rocco: “Gosto de fazer halter de corpo inteiro, tenho várias prediletas mas as que mais gosto são uma do Ali Jamaal relinchando e uma do CG Balih El Jamaal. Já em movimento a foto da NV Angélica que virou capa de livro internacional.” Rogério Santos: “Eu gosto mais das fotos em movimento, é onde o cavalo Árabe mostra todo o seu diferencial. Sua nobreza, seu carisma, sua intensidade são momentosos. É difícil escolher depois de ter fotografado tanto, mas estou gostando de duas fotos que fiz na Nacional passada, as duas em movimento, uma mais ostentosa do El Jahez ao trote de entrada em pista e outra mais solene da Lumiar Ethna ao passo.



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