Tuesday 22 August 2023

Na Cavalo Árabe de Julho 2023

 Em Meio a Rosas


Nour dirige como todos por esta parte do mundo: um doido, mas ele é bom no que faz. O caminho pela estrada é de pavimento novo e bem sinalizado. O destino final é a cidade de Petra na Jordânia. Dentro do carro, fornido de muita água gelada e tâmaras in natura, o ar condicionado é mandatório, já que a temperatura alcança picos de calor. Enquanto isso, o guia Mahmoud nos doutrina sobre o que é ser árabe num mundo que, por muitas vezes, encara este ser com desconfiança. Ele nos levou para o melhor restaurante que experimentamos em nossa aventura por essas partes do Oriente Médio: o Don Quixote (Tawaheen Al-Hawa Don Quichotte) em Amã. Um banquete infindável, uma festa para o paladar.

Petra é uma cidade escavada na pedra rosa e vermelha das montanhas de Wadi Musa, trabalho feito pelo povo Nabateu cerca de 312 a.c., quando estes controlavam o comércio de especiarias da região. Nada melhor do que metamorfosear-se em rocha num local cuja natureza é eternamente mutante e num mundo de disputas acirradas por poder. Hoje, eleita Patrimônio da Humanidade pela Unesco e votada como uma das Sete Maravilhas do mundo moderno, é um museu a céu aberto.

Carros são proibidos de se aproximar do sítio arqueológico, mas há muitas outras opções de acesso: cavalos, camelos, burros, carrinhos que fazem lotação de seis pessoas dirigidos pelos (loucos) beduínos, ou até mesmo a prosaica e boa forma de transporte “a pé”. Entre as montanhas, no corredor do cânion (Siq) onde não bate sol, o ar é fresco, porém, no geral, usa-se chapéu junto a protetor solar em volumes industriais. Qualquer desconforto é esquecido em meio aos depósitos sedimentares róseos-avermelhados nos quais os antigos gravaram em desenhos as caravanas que por ali passavam,  ladeando o sistema de captação de água e canalização escavado na pedra, que serpenteia a uns metros do chão.

Gregos, romanos e bizantinos estiveram em Petra e deixaram suas marcas, como as colunatas, os templos, e o monastério. No teatro iniciado pelos Nabateus para 4.000 pessoas e ampliado para 7.000 pelos romanos, o guia nos convida a gritar para sentir a capacidade acústica local.

Um sem número de tumbas reais polvilham as escarpas das montanhas. Al-Khazneh (tesouro) é o nome dado à mais importante edificação local, presumivelmente o mausoléu de um rei nabateu, Aretas IV, com suas colunas, capitéis, frisas e figuras esculpidas no arenito rosa e vermelho. Logo em frente, camelos ficam à disposição daqueles que ousam subir em suas corcovas; vendedores ambulantes oferecem colares, gutras e trajes coloridos. À volta, em cavernas nas escarpas, notamos residências de beduínos que, efetivamente, ali moram. Mahmoud conta um segredo: na verdade, todos eles têm casas normais na cidade, mas vêm para cá na temporada de turismo.

Petra e suas ruínas foram cenário dos filmes Indiana Jones e a Última Cruzada, Transformers e Mortal Kombat, da mesma maneira da novela Viver a Vida.

E já que estamos em Amã, queremos tentar a sorte: visitar o haras real, criatório de cavalos Árabe, assim, sem hora marcada? O motorista Nour talvez conheça alguém... Seria espetacular ver aquela campeã internacional; aquelas belíssimas fêmeas tordilhas e o jovem garanhão de pelo escuro; admirar todos aqueles olhos fenomenais, quase do tamanho de bolas de sinuca; sentir o cheiro do feno cortado que brilha de tão verdinho sobre o terreno branco e arenoso; conhecer a coleção de trajes típicos; apreciar as construções clássicas em meio às exuberantes roseiras de todas as cores... Quem sabe?





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