Thursday 14 September 2023

Loucamente Apaixonada Por Um Livro

 




Confissões de uma recalcada frustrada

O primeiro livro da autora americana Rachel Gibson que li foi Simply Irressistible. Como gostei muuuito, comprei o Truly Madly Yours na sequência em fevereiro de 2001. Um amor fulminante se abateu sobre mim: a história, o casal protagonista, a cidadezinha, seus habitantes, os amigos... Um chick-lit de primeira linha!

Também eu conheci uma cidade pequena, na qual meu pai tinha uma considerável influência e minhas irmãs e eu vivíamos sob o escrutínio de todos. Também meu pai é/era extremamente controlador e encrenqueiro e também me apaixonei pelo filho de um desafeto dele. A diferença entre Delaney e eu é que meu amor era estritamente platônico, o pavor que eu tinha da fúria de meu pai não me permitiu soltar as asas e voar.

Outra coisa apaixonante sobre esse livro de Rachel Gibson é a maneira como escreve: pitadas de sarcasmo se misturam com descrições refinadas e diálogos inteligentes. Os personagens circulam pela história como se numa valsa!

Li e reli tantas vezes o Truly Madly Yours, que resolvi fazer transpô-lo para o porturguês e tentar “me vender” como tradutora para a editora que retinha os direitos dele. A tolinha, ingênua. A resposta que recebi foi de que “as coisas não funcionam assim” e me dispensaram sumariamente. Fui em frente de qualquer jeito, só pro meu prazer. Também já revisei milhares de vezes e sempre acho que há coisas a melhorar.

Meu mergulho neste romance foi tão profundo que ele se tornou a alavanca para que eu finalmente me lançasse na aventura com a qual antigamente eu apenas sonhava, que era escrever um livro. Em 2007, aos cinquenta anos de idade, editei o Passo Trote Galope. Na sequência vieram Quer Apostar?, Sob o Signo de Centauro, Carrossel, Vale das Luas e Perdi a Cabeça, todos com um final feliz.

No momento estou numa fase de pouca inspiração e, imaginando que Truly poderia me ajudar novamente, peguei minha tradução para reler. Daí, lembrei que, para minha decepção, algum tempo atrás o livro foi lançado em português e bateu curiosidade sobre como estaria essa tradução da Jardim dos Livros. Comprei-a no Kindle e, em vez de ajudar a melhorar minha tentativa, fiquei extremamente decepcionada com o que li.

A forma correta de se escrever logo após a frase dita por um personagem em português é, por exemplo, "disse ele", "perguntou ele", "afirmou ele" e não ele disse, ele perguntou ou ele afirmou, ou seja, o verbo vem antes do sujeito. Muito me espanta e frustra o desleixo e o descaso das editoras ao deixarem que esse tipo de erro ocorra. Isso é um grande desprezo com relação ao leitor que paga o preço pedido pelo livro. Fiquei muito frustrada com minha primeira editora que viu meu erro e não me corrigiu, porque "daria muito trabalho". Nunca mais errei. Não foi o caso com a tradução publicada de Truly.

A Sra. Renata da Silva equivocou-se diversas vezes ao longo do trabalho. Por exemplo, numa das cenas cruciais ela colocou como sendo “Sim” a resposta de um personagem, quando na verdade tinha sido “Não”! Isso muda completamente o sentido daquele momento, além de deixar o leitor extremamente confuso! 

Por diversas vezes o texto foi mutilado quando se ignorou o fino sarcasmo da autora! Da mesma maneira, a dança dos personagens também sumiu. A beleza de descrições não apareceu. E eu gostaria de saber em que dicionário “cílios longos” podem ser traduzidos como “pálpebras grossas”? Desde quando um txapel é um sombreiro? E por aí vai. 

Mas o pior de tudo mesmo é a recusa em tomar qualquer conhecimento com relação à expressão “wild thing”. Existe uma música famosíssima chamada  “Wild Thing” e o termo é claramente usado pela autora como referência à letra, que tem tudo a ver com a dupla protagonista. Quando a personagem principal diz que quer fazer alguma “coisa louca” na vida (cena ignorada na tradução), o seu contrapartido passa a chamá-la de “coisa louca”, o que a enfurece. A Sra Renata prefere traduzir como “minha gata”, totalmente fora de propósito!

Muito frustrante! Prefiro ficar com a minha tradução clandestina!




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