Wednesday 19 June 2024

Talento

Na Revista Cavalo Árabe


 Ou você tem ou não tem. Ok, ok, uma pessoa pode até estudar e desenvolver uma habilidade, mas vamos falar aqui do talento nu e cru, nato, intrínseco, inquebrantável, inalienável. Um dom de Deus.

Aquele que se vê quando um pianista mirim enleva seus ouvintes numa praça de alimentação de um shopping center qualquer. O corredor de Fórmula Um Ayrton Senna pilotando na chuva. Sabe aquele cubo cheio de quadradinhos coloridos em todas as faces que devem ser girados até ficarem juntos, vermelhos com vermelhos, azuis com azuis etc? Há pessoas que conseguem em tempo recorde essa proeza — isso é talento.

Agora, existem dons para o bem e talentos para o mal. O médico que abre a porta do consultório, enfia dois dedos na sua testa, diz: “rinite alérgica” e só não faz a receita ali mesmo na soleira porque precisa da mesa para se apoiar — isso é talento do bem, um diagnóstico rápido e preciso. Você vai à farmácia, compra o remédio e pronto. Os sintomas desaparecem ou arrefecem. Tem aqueles dois amigos que bebiam água após uma corrida, um deles, médico, notou que o outro levava a garrafa plástica à boca de um modo peculiar. Recomendou que o amigo consultasse um determinado especialista. Resultado: um mal de Parkinson detectado precocemente e sendo tratado de acordo! Se não fosse a sapiência do médico...

Há pessoas que têm o talento para irritar. Um exemplo: aquele fulano que pergunta como você faz para tirar uma nota fiscal e, no meio da explicação, puxa um novo assunto e continua como se nada houvesse acontecido. Ou se dirige a outra pessoa e passa a te ignorar. Em geral é gente superficial, gente “borboleta”. Que los hay, los hay.

Extraordinária é aquela mestre-cuca que consegue misturar sabores que deleitam as papilas gustativas das pessoas; fenomenal é a criatura que, com uma bola nos pés tem alcance, visão e precisão para um chute a gol. Algum Palmeirense por aí? Ok, ok, não vamos entrar por essa seara!

O que não dizer daqueles de talentos múltiplos? Um exemplo clássico é o italiano nascido em 1452, Leonardo da Vinci, autodidata, seus dons abrangiam a arte pictórica (Monalisa), a ciência (roda hidráulica) e a inventividade (urbanismo). Embrenhou-se pela escultura (Virgem com a criança a rir), pela anatomia humana (O Tratado de Anatomia), a matemática (aeronáutica), a arquitetura (casas amplas e arejadas) e a engenharia civil (pontes metálicas).

Pois cá estamos em mais uma edição da nossa Nacional do Cavalo Árabe. O ar vibra com as expectativas que envolvem o trabalho de todo um ano (quiçá dois, três anos ou mais) das equipes formadas por criadores, condicionadores, tratadores, veterinários, ferradores, apresentadores e outros tantos dedicados à colocação de um animal em pista para ser julgado. Qual será o exemplar que apresentará o talento que vai arrebatar todas as atenções, pela correção de seus traços, pela sua atitude, por um trote fenomenal? Uma graça de Deus. E tem mais: o seu talento será desafiado. Como está o seu “olho” para detectar aquela joia rara entre tantos concorrentes, sua inteligência emocional está suficientemente à flor da pele para perceber aquele fator a mais, o que os franceses chamam de “je ne sais quois” (não sei o quê) que levará o prêmio máximo para o potro ou potra, égua ou garanhão, coroando uma combinação de genes, um haras e um time competente?

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