Na Revista Cavalo Árabe
Ou você tem ou não tem. Ok, ok, uma pessoa pode até estudar e desenvolver uma habilidade, mas vamos falar aqui do talento nu e cru, nato, intrínseco, inquebrantável, inalienável. Um dom de Deus.
Aquele que se
vê quando um pianista mirim enleva seus ouvintes numa praça de alimentação de
um shopping center qualquer. O corredor de Fórmula Um Ayrton Senna pilotando na
chuva. Sabe aquele cubo cheio de quadradinhos coloridos em todas as faces que
devem ser girados até ficarem juntos, vermelhos com vermelhos, azuis com azuis
etc? Há pessoas que conseguem em tempo recorde essa proeza — isso é talento.
Agora, existem dons
para o bem e talentos para o mal. O médico que abre a porta do consultório,
enfia dois dedos na sua testa, diz: “rinite alérgica” e só não faz a receita
ali mesmo na soleira porque precisa da mesa para se apoiar — isso é talento do
bem, um diagnóstico rápido e preciso. Você vai à farmácia, compra o remédio e
pronto. Os sintomas desaparecem ou arrefecem. Tem aqueles dois amigos que bebiam
água após uma corrida, um deles, médico, notou que o outro levava a garrafa
plástica à boca de um modo peculiar. Recomendou que o amigo consultasse um
determinado especialista. Resultado: um mal de Parkinson detectado precocemente
e sendo tratado de acordo! Se não fosse a sapiência do médico...
Há pessoas que
têm o talento para irritar. Um exemplo: aquele fulano que pergunta como você
faz para tirar uma nota fiscal e, no meio da explicação, puxa um novo assunto e
continua como se nada houvesse acontecido. Ou se dirige a outra pessoa e passa
a te ignorar. Em geral é gente superficial, gente “borboleta”. Que los hay, los
hay.
Extraordinária é aquela mestre-cuca que consegue misturar sabores que deleitam as papilas gustativas das pessoas; fenomenal é a criatura que, com uma bola nos pés tem alcance, visão e precisão para um chute a gol. Algum Palmeirense por aí? Ok, ok, não vamos entrar por essa seara!
O que não dizer
daqueles de talentos múltiplos? Um exemplo clássico é o italiano nascido em
1452, Leonardo da Vinci, autodidata, seus dons abrangiam a arte pictórica
(Monalisa), a ciência (roda hidráulica) e a inventividade (urbanismo).
Embrenhou-se pela escultura (Virgem com a criança a rir), pela anatomia humana
(O Tratado de Anatomia), a matemática (aeronáutica), a arquitetura (casas
amplas e arejadas) e a engenharia civil (pontes metálicas).
Pois cá estamos em mais uma
edição da nossa Nacional do Cavalo Árabe. O ar vibra com as expectativas que
envolvem o trabalho de todo um ano (quiçá dois, três anos ou mais) das equipes
formadas por criadores, condicionadores, tratadores, veterinários, ferradores, apresentadores
e outros tantos dedicados à colocação de um animal em pista para ser julgado.
Qual será o exemplar que apresentará o talento que vai arrebatar todas as
atenções, pela correção de seus traços, pela sua atitude, por um trote
fenomenal? Uma graça de Deus. E tem mais: o seu talento será desafiado. Como
está o seu “olho” para detectar aquela joia rara entre tantos concorrentes, sua
inteligência emocional está suficientemente à flor da pele para perceber aquele
fator a mais, o que os franceses chamam de “je ne sais quois” (não sei o quê)
que levará o prêmio máximo para o potro ou potra, égua ou garanhão, coroando
uma combinação de genes, um haras e um time competente?
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