"Oi galera,
Queríamos agradecer muito a presença e a força de vocês durante toda a exposição e principalmente no campeonato da Innamorata. Vocês não calculam a emoção e toda a carga de sentimentos que veio com esta vitória. Gostaríamos de contar um pouquinho da história dela, para que possam ter uma idéia da dimensão da coisa toda.
Ela nasceu no meio de um lote de potras lindas: Ilythia, Iehudith, Illuminata, Nokys e cedo se destacou. Tanto que logo foi enviada para um centro de treinamento e, embora quiséssemos que fosse apresentada na Nacional de 99, ela não ficou pronta.
Sua estréia foi na Interestadual de 2000 com muito sucesso e assim continuou durante toda a campanha, até entrar como uma das favoritas da Nacional daquele ano. Choveu muito no dia da final e ela ficou aguardando para entrar em pista debaixo de um telhado de ferro, no meio da ventania, do barulho, dos trovões, dos relâmpagos e de outros animais assustados. Como toda prima-dona, Innamorata tem personalidade forte e é muito nervosa. É hereditário. A mãe dela, Jur Mirella, foi famosa por dar coices em pista e vimos por diversas vezes ela tirar finos de orelhas de juizes. A filha é tão mau-humorada quanto à mãe, muito diferente do Quartz, que sabe que é bonito e gosta de se mostrar: ela entende que é bela, mas detesta a babação. Resultado: a apresentação foi sofrível e o título de Reservada Campeã Júnior de certa forma nos frustrou, pois até então ela fora invicta em pista.
2001 foi um ano de altos e baixos, ela teve gripe e outras ziquiziras, estressava-se facilmente, nem sempre tinha bom aproveitamento. Outra Nacional e apenas obtivemos um primeiro lugar na categoria potranca.
Tinham sido dois anos de campanha intensa e, uma vez que ela entraria como Égua muito nova em 2002, achamos melhor que ela descansasse, emprenhasse e só então voltasse às pistas. Só que surgiu a categoria Égua Jovem, e ela não precisaria competir com fêmeas mais desenvolvidas e turbinadas do que ela. Chiquinho nos convenceu de que poderia mantê-la treinada sem estresse e realmente pudemos acompanhar o processo de re-adaptação que nos deixou muito felizes. A Innamorata que vimos se apresentar em Julho em Jacareí e em Setembro, na Internacional de Avaré, estava absolutamente transformada. E linda. Ela fez só exposições para pontuar e não exigimos muito dela. Apesar disso, o resultado não nos deixou plenamente convencidos de que ela pudesse ser candidata ao título de Campeã Nacional.
Quando eu me sentei na primeira fileira do camarote no sábado, estava exausta, meio catatônica, mas com a firme convicção de que iria assistir a minha linda desfilar sem a menor expectativa. E com um grande conforto: desde a Nacional de 2001 eu me conscientizei que a Innamorata não precisa provar nada mais para mim. Ela é maravilhosa e ponto final. Pela primeira vez em dois anos, não havia o clima de oba-oba anterior, inclusive dos outros admiradores dela, o que me deixou mais tranqüila ainda. Vocês sabem que eu anoto tudo o que se passa em pista: nome do apresentador, observo pai, mãe, idade... Naquele dia eu guardei minha caneta, o catálogo e fiquei olhando só para ela, sem me preocupar em analisar as outras concorrentes. E lá estava a filhota mostrando as orelhas para frente por apenas alguns segundos. Eu pensei: ainda bem que não me iludi.
O locutor estava anunciando os resultados, chamando pelos nomes e separando as sílabas e não pelos números como de habitual. O primeiro som que ele soltou para chamar a campeã foi anasalado e eu imaginei que outra potra tinha ganhado o título. Só quando ele falou “na” depois do “in” é que me dei conta do que finalmente havia acontecido.
Vocês viram o resto: eu estava com o rosto no peito do Claudio, chorando desesperadamente quando senti um peso cair sobre nós. Achei que haviam jogado uma manta por cima, sei lá. Daí ouvi o Claudio agradecer ao Chiquinho e entendi que era ele que nos abraçava. Soube que a Innamorata estava com o focinho sobre a varanda e que algumas pessoas e a Raquel tiveram que segurar o cabo...Eu não via mais nada. Meu caminho até a foto foi entre lampejos de luz: escuro quando alguém me abraçava e claro quando eu abria os olhos para cair em outro abraço. Ainda não parei de me emocionar até agora.
Vou terminar esta como comecei: agradecendo a vocês por todo o carinho demonstrado, que se materializou inclusive em garrafas de uísque e vinho, arranjos de flores, lanchinhos providenciais e as cervejas geladas que apareceram na minha frente quando nosso estoque acabou. Passamos por um batidão incansável desde Setembro, participando da organização da exposição, preparando os animais, montando o camarote e um escritório, preocupados em fazer a “passagem” tranqüila pela Nacional de alguns clientes e amigos que estavam estreando nas pistas, preparando o material gráfico sobre o haras, a apresentação do novo garanhão, o uniforme dos funcionários, os artigos de cosméticos indispensáveis e sei mais lá quantos outros detalhes e miudezas. Estávamos envolvidos com algo em torno de 25 cavalos entre nossos, de clientes, de amigos e outros nos quais temos interesse. Quero inclusive pedir desculpas àqueles com quem fui rude por absoluto cansaço (vínhamos dormindo todos os dias após duas da manhã desde o dia 8), pelas conversas começadas e nunca terminadas, pelos “colinhos” que não foram dados, pelas vezes que olhei sem ver e pelos parabéns que ficaram esquecidos.
Valeu gente.
Beijos mil."
Uma correção: o tempo mostrou que Innamorata era a mais doce das éguas. Ela só, realmente, não gostava de se apresentar... As saudades serão eternas.
Foto Rogério Santos.
No comments:
Post a Comment